A Poesia que vem do mar.

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Conheci Lucimar de Oliveira em março de 1956, quando, ambos, chegamos numa ensolarada manhã à Angra dos Reis, integrando a inesquecível Turma Face do Colégio Naval.

Logo descobrimos que a Poesia nos aproximava, pois embora em companhias e pelotões diferentes, conversávamos muito sobre Literatura.

Isto permitiu que, no início de 1957, fossemos colaboradores do famoso Gingilim, jornal interno dos alunos. Além de nós, o Rubens Bravo, Ronald Guimarães e Cunha Lima, fotógrafos da pesada, e outros, como o Teófilo Symfronio, curtíamos mensalmente as edições mimeografadas do pequeno jornal, zoando todo mundo e sendo alvo de bons elogios da rapaziada.

Ao longo da carreira de hidrógrafo, com muita tarimba em Meteorologia, o Lucimar se revelou um poeta como muito poucos a nossa Marinha teve e publicou alguns livros, verdadeiras obras de rara sensibilidade e talento.

Não segui a carreira, mas não perdi o Lucimar de vista. Tanto é que, quando o Saldanha da Gama, histórico navio-escola da Armada deu baixa, o Lucimar era o seu comandante e realizou um jantar de despedida que reuniu toda a Turma Face numa festa memorável, na Ilha Fiscal.

Semana passada, o Lucimar me procurou na Internet e trocamos e-mails. Claro que a Poesia esteve presente nesta ida e vinda de mensagens.
Me ocorreu publicar em meu blog um poema que ele, gentilmente, me enviou.
Espero que vocês gostem. Eu, de minha parte, agradeço de coração ao Lucimar ter atendido ao meu pedido e ter autorizado a publicação.

Aí vai:

Conveses rotos

voltei de tempestades
cheguei de travessias
vim do oceano
do mar alto
dos abismos

tenho o corpo ferido em vento e mar
a alma em fúria
o coração em fogo
o peito em dor

marinheiro andante de rotas e derrotas
trago as histórias que vivi de portos e mulheres

eu menino travesso
eu adolescente triste
eu homem desesperado

meus pés têm o lanho de conveses rotos
em navios sem rumo pelos mares da vida

e minhas mãos as marcas de pesadas enxárcias
cabos trançados
espringues e lançantes

voltei de longe
de horizontes e ventos
de madrugadas lentas e manhãs ardentes
e muitas horas de vigília em mastros oscilantes

de noites negras em céu multiestrelado
de plêiades e estrelas solitárias
constelações e galáxias

vim de dunas
de alísios
de praias brancas imensas
litorais ao longe
oceano infinito

vim de noites sem dormir em mar encapelado
navios como nozes jogados entre ondas
naufrágios e balsas
nenhum cais
nenhum porto

e chego aqui em tua casa
em teu porto
em teu cais

e chego coração
alma
peito aberto

na busca do repouso de uma tarde assim
em brisa mansa e tépido convívio

para saber tua presença
teu silêncio

teu vulto de mulher que me enternece
e encanta

(Lucimar de Oliveira)

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