Gilvan Chegure, profissional respeitado no mercado, foi meu aluno na saudosa Gama Filho nos últimos anos de 70. Ele fez parte da primeira turma de Publicidade que a Gama formou.
Pedi ao Gilvan que trouxesse uma visão pessoal de sua trajetória, prática que tenho utilizado para que meu blog ganhe a experiência planetária dos últimos 50 anos da Publicidade Vivida por toda uma geração.
Eis o seu relato:
“Fiquei muito feliz em rever no encontro de comemoração dos 44 anos de formatura da primeira turma de publicidade da saudosa Gama Filho, o meu então professor e, hoje, amigo Marcello Silva.
Para minha surpresa, o Marcello me pediu um texto de um tema de total livre escolha para o seu site www.publicidadevivida.com.br. Quando nos pedem para escrever sobre qualquer assunto que pensamos dominar, a tarefa se torna fácil e as lembranças nos ajudam na sua construção. Porém, quando a escolha é livre, a coisa se complica um pouco.
O que dizer sobre o desconhecido? Isto se torna preocupantemente difícil, pois o médico alemão, Dr. Zazá, rouba um bom bocado da nossa memória. Porém um pedido de um amigo, torna-se uma missão, prazerosa e difícil.
Isto me lembra de uma palestra, onde tive de discorrer sobre a ética na propaganda. E tinha mais de uma hora para discorrer sobre o assunto para uma plateia de universitários razoavelmente grande. Inicialmente achei bastante complexa.
Depois de conversar umas noites com o meu travesseiro, as ideias foram fluindo e depois montei a palestra, que, diga-se de passagem, foi um sucesso e me rendeu um emprego de professor na instituição.
Então vamos lá. Por onde começar? Por que não pensar um “cadim” como era o mundo da propaganda da minha geração?
Foi uma época heroica e muito criativa, onde os profissionais das agências concorrentes e os contatos de veículos se ajudavam e procuravam não deixar nenhum profissional no desvio. Havia sempre no mercado um lugarzinho ao sol para salvar o pão nosso de cada dia. Era realmente uma comunidade muito atuante, amigável e com um invejável espírito comunitário. Onde o respeito pelas pessoas da comunidade era gritante e extrapolava as dificuldades do mercado.
Geração de profissionais que amavam a propaganda. Muito talentosos, criativos e responsáveis no que faziam e por esse motivo, levantaram muitos prêmios nacionais e internacionais, fazendo, com muita competência, os negócios dos clientes prosperarem como nunca.
Geração que criou campanhas mundialmente conhecidas e aplaudidas pelo mercado. Tudo isso, sem internet, mídias sociais e outros milagres do terceiro milênio. Porém, isso tudo movido a muita alegria de viver e realizar. Embora tudo fosse cheio de dificuldades para realizar, com toda a baixa tecnologia reinante e brigando contra o tempo, as coisas rolavam redondinhas, como devia ser.
Geração muito festiva e alcoólica. Todo dia pintavam almoços, happy hours, jantares e inacreditáveis festanças, etílicas e gastronômicas. Eram tantos eventos que se acabava recusando os convites, por falta de vontade ou porque havia mais de um no mesmo horário. E ninguém deixava a peteca cair no dia seguinte. Bons tempos, aqueles!
Geração onde os profissionais como o Marcello Silva e muitos outros eram requisitados pelo seu conhecimento técnico, a lecionar nas faculdades de comunicação. Eu, por exemplo, fui professor de diversas, sendo a FACHA a principal, onde atuei como professor de mídia, pesquisa, atendimento e marketing por 28 anos.
Muitos eram os nomes emblemáticos dessa geração dourada de publicitários e não seria justo citar alguns e acabar omitindo imerecidamente muitos personagens.
Esse foi o meu recado, orgulhosamente saudosista, desse mundinho da propaganda que eu sempre amei e tive o prazer de viver intensamente. Espero que vocês do www.publicidadevivida.com.br, me deixem contar em outras oportunidades os meus causos, dos tempos heroicos da nossa sempre amada propaganda.”
Por Gilvan Chegure (16.03.2020)