Rito de Passagem II

Square

Impossível não lembrar a angústia vivida pelo jovem residente, ao perceber que falece em suas mãos o anônimo paciente que parecia poder ser salvo, com certeza.

Talvez pareça ingrato trazer de volta a dor sentida pelo pugilista, em pleno quinto round, sangue na boca, e a contagem progressiva chegando aos dez segundos, num primeiro knockout.

Não venham me dizer que já passou a sensação de desamparo, quando a primeira namorada, com firmeza, sorriu e disse que o amor tinha acabado.

Quem dera poder ignorar o desespero do motoboy, sabendo que a fratura viria inevitável, depois da derrapagem inesperada.

Pode parecer inconsequente rememorar a queda, no centro do palco, da bailarina novata, em noite de estreia, no segundo ato de Giselle.

E também cabe, piada de mau gosto, pensar na frustração do quase ganhador da mega-sena, não acertando duas únicas dezenas que faltaram, num teste milionário.

E para não parecer que só penso em coisas tristes, considere a alegria do futuro pai, ao saber da notícia que daqui a nove meses, a vida lhes trará um novo ser, missão a ser cumprida.

São ritos de passagem, não parecem muito, mas se todo mundo afirma que recordar é reviver, que a memória me ajude neste ofício.

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