Eu conheci os Novos Baianos apresentado pelo José Carlos Capinam, numa tarde de 1971.
Capinam era o Diretor de Criação da SGB Publicidade e trabalhávamos juntos.
Eu era gerente de Planejamento, recém contratado.
Alguns tempo depois, tive a honra de substituir o Capinam quando ele pediu demissão pra voltar pra Bahia estudar Medicina e trilhar uma carreira brilhante.
A Publicidade perdeu um grande criador, mas a Medicina, com certeza, saiu ganhando;
Os Novos Baianos tinham chegado da Bahia e praticamente “acamparam” num pequeno apartamento, perto da Visconde de Caravelas, em Botafogo.
Depois nunca mais nos vimos e, à distância, acompanhei o sucesso do Grupo, ampliado pela carreira solo do Moraes Moreira.
Hoje, chegou a notícia triste de sua despedida.
Uma perda. Marcou a MPB com seu talento.
Gilvan Chegure, amigo e fraterno leitor de nosso blog, sugeriu que Publicidade Vivida publicasse este poema, escrito há poucos dias pelo Moraes Moreira.
Uma visão perfeita do momento que estamos vivendo. Aí está.
Quarentena
(Moraes Moreira)
Eu temo o coronavírus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa ainda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já foram postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo, nem idade
Moraes era ainda escritor, publicando os livros “Poeta não tem idade” (2012) e “A História dos Novos Baianos e Outros versos” (2008), ocupando a cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.