Com a Palavra, Mario de Andrade!

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Mario de Andrade, paulistano nascido na Rua da Aurora, publicou  “Paulicéia Desvairada”, o primeiro livro de poemas da primeira fase do Modernismo.

Encontrei na Internet um texto seu que me fez mergulhar numa profunda reflexão: “O valioso tempo dos maduros”.

E ainda melhor, o texto de Mario de Andrade vinha logo abaixo de oportunas considerações de Marco Aurélio Loureiro, que gostaria de conhecer.

Pronto para completar 80 anos no mês que vem, achei que o nosso blog poderia abrigar estas mensagens. Espero que vocês gostem.

“O tempo passa, os filhos crescem, os cabelos brancos chegam. Pensamos em nossas vidas e fazemos um balanço: o que vivi? Nossa vida é breve, fugidia, capaz de terminar de uma hora para outra. Quando percebemos que o valioso tempo que nos foi dado tem fim e está terminando, passamos a dar valor a ele. Isso é natural do ser humano, damos mais valor ao que falta. Vivemos em um universo de escassez, valorizamos apenas quando percebemos que nos falta.

Essas reflexões não precisam ser privilégio de pessoas maduras, que já viram muitas primaveras. Todos podem pensar sobre seus últimos dias na Terra. E com base nisso, sentir a urgência de viver, de cumprir sua missão, de dar o seu recado. Se pararmos um momento, percebemos que para o mundo não tem muita diferença entre 5, 10, 20 ou 50 anos. Ele seguirá sua jornada, nós é que temos uma janela bem pequena de tempo para experimentar a vida aqui.

O que você quer que seja escrito na sua lápide? Pelo que você deseja ser lembrado? Que tal a partir de hoje encarar cada dia como uma bênção e dar o seu melhor para ser um fator de soma na vida dos outros? Não importa o que passou, mas sim o que você faz com o que passou e segue em frente. Essa inestimável lição é conhecida pelos mais velhos, que tem urgência de viver. O tempo é escasso, não o desperdice”. 

Conheça, agora, a visão do Mario de Andrade sobre o tema:

O valioso tempo dos maduros

Mário de Andrade

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo pra viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana: que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!”

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