Criar é desafiar os deuses!

Square

Recentemente, meu amigo Sérgio De Paula viu publicado pelo Propmark um texto seu, magistral, sobre o ato de criar e o medo inerente ao processo. Bela ideia do editor Paulo Macedo, uma das âncoras do Jornal, pedir este texto ao Sérgio, um dos melhores homens de criação desta comunidade de excelentes publicitários, modéstia à parte, da nossa geração. Parodiando Vinicius: “Os muito jovens que me perdoem. Mas experiência é fundamental!” E experiência é o que não falta ao De Paula para trazer sua visão. Confesso que depois de ter falado sobre brainstorming no meu último texto, pensava em abordar um tema tão inesgotável quanto Criatividade. A matéria do Sérgio De Paula, de tão bem sacada, me fez pensar em adiar meu novo texto e, ao mesmo tempo, me estimulou para mergulhar no tema e tratar também do assunto.

O primeiro modelo consistente, para que possamos desenvolver o pensamento criativo, foi criado por Graham Wallas, em 1926.

E como ele foi o Pai da Matéria, vale a pena a gente falar um pouco mais sobre o seu perfil. Inglês, nascido em Sunderland, em 1858. Sempre foi considerado um pioneiro no campo da psicologia política.
Foi um dos primeiros membros da famosa Fabian Society, um reduto socialista da época. Dedicou sua vida a especular sobre a correlação entre a psicologia humana e a Ciência Política, destacou-se como brilhante conferencista e exatamente seis anos antes de sua morte, ocorrida em 1931, publicou The Art of Thought, obra cuja síntese vamos aprofundar neste texto. Segundo Graham Wallas, o processo Criativo, isto é, The Art of Thought é dividido em quatro fases: Preparação, Incubação, Iluminação e Verificação.

  1. Primeira fase – Preparação: é o momento em que nos deparamos com um determinado problema, seja qual for, consciente ou inconscientemente, e partimos para a captura de um maior número possível de informações sobre o assunto ou problema em questão. Após esta conquista de informações, o indivíduo começa a pensar e a sobre o problema com base em todas as informações recolhidas.
  2. Segunda fase – Incubação: Nesta fase do processo quem está criando deve, assumidamente, viver um realista “afastamento” em relação ao problema, tentando desligar-se do problema, deixando-o de lado por um tempo. No entanto, é preciso, na busca da solução criativa, manter-se atento, pois a solução ainda não floresceu, o problema persiste sem solução.
  3. Terceira fase – Iluminação: Esta fase ocorre em momentos inesperados e de uma forma repentina no cotidiano do indivíduo. Caracteriza-se por ser o momento em que surge, aparentemente de forma repentina, uma nova ideia, como também a visualização de uma solução para o problema, sendo utilizada a clássica expressão de Arquimedes “EUREKA!”.Os pensamentos emergentes começam a fazer sentido e o indivíduo consegue organizá-los de modo lógico.
  4. Quarta fase – Verificação: O indivíduo nesta fase volta à fase consciente de forma a racionalizar e organizar o produto da sua imaginação. Neste momento o isolamento não é aconselhável, pois o indivíduo necessita das opiniões e das reações de pessoas, através de críticas, julgamentos e avaliações sobre a obra de sua imaginação.

Que me perdoe o Mestre Graham Wallas, mas ele entenderia que a Criatividade é um processo dinâmico que comporta acréscimos bem intencionados.

Meus queridos ex-alunos da saudosa Gama Filho, que estiverem seguindo meu blog, com certeza vão se lembrar de que eu sempre tomei a liberdade de incluir mais três fases na estrutura fundamental criada pelo Graham Wallas.

Quais as outras três fases que, a nosso ver, ampliam o processo Criativo?

São elas a Manipulação, a Antecipação e o Desejo.

Manipulação: logo depois da primeira fase, fase de Preparação, cabe a quem está buscando uma solução criativa ser muito rigoroso com o volume de Informação que captou na fase inicial. Vamos explicar: A fase de Preparação é traiçoeira, porque estávamos partindo do marco zero em matéria de informação, concordam? Não se pode ser pouco exigente nesta fase de Preparação. Qualquer informação de boa fonte é relevante! Tudo o que você puder consultar, perguntar, pesquisar, vai ser de grande importância ao resultado final de sua busca por uma Ideia. Na Preparação, você transforma o que não conhece em familiar. Você começa a ganhar intimidade com um volume de dados que não conhecia. Este é o momento em que você precisa confiar, desconfiando. Em outras palavras: você já sabe muito, mas não pode confiar nesta massa de Informação.

O que vem a ser o que chamo de Manipulação? Manipulação é você manter um distanciamento crítico em relação ao seu avanço na Preparação. Uma postura rigorosa, que te conduza ao estágio de dúvida, do tipo: agora já domino muita informação, mas será que isto é suficiente? Na Manipulação você, intencionalmente, transforma aquele novo familiar em algo incompleto, que merece análise e revisão.

A Antecipação é uma fase muito interessante, entre a Incubação e a Iluminação. Esta fase se manifesta pelo surgimento de “lampejos”, flashes muito repentinos que chegam a sua mente, algo como uma premonição, uma forte intuição da Idéia que está pra surgir na fase tão esperada de Iluminação, quando a ideia, finalmente “explode” com todo a força de novidade, tão necessária.

E, para finalizar, vamos falar de uma fase que muitos desprezam e ela é tão importante que deveria ser a primeira fase do Processo: a fase de Desejo.  Se você, ardentemente, não desejar com toda a força de sua vontade e com toda a obstinação de sua disposição ser criativo, você NÃO vai encontrar a Ideia Criativa que precisa ter para resolver um problema. Vale repisar: se você, de corpo e alma, NÃO desejar ser criativo, os Deuses das Grandes Soluções terão vencido você!

Deixe seu ponto de vista, comente: