Juju e eu

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Meu avô Augusto, farmacêutico com vocação para médico, sofria muito com as minhas crises de asma. Tirava da cartola sua habilidade e, com muita prática, fazia o que chamavam de cataplasma, uma placa quente com vários ingredientes, capazes de aliviar o chiado da asma e minha falta de ar.

A asma me tirou alguns prazeres possíveis à infância.

Nas festas juninas, nem pensar em sentir cheiro de fogos. A crise chegava na hora. Brincar com gato, impossível. Confesso que tive que desenvolver mais que um temor; aperfeiçoei uma verdadeira ojeriza por gatos de qualquer raça e tamanho.

Quando Lilian e eu decidimos morar juntos, para coroar namoro gostosamente longo, encontrei na casa dela duas gatas: Cléo e Juju. Cléo, absolutamente carente, arredia e sempre na dela.

Juju, não: amistosa, interativa e interessada em demonstrar afeto.

Por pura intuição, entrei numa loja pet e comprei um pequeno colar com um singelo coração vermelho pingente e pedi para gravarem o nome.

Vocês não vão acreditar: colocado o colar pela Lilian, parece que a Juju sacou minha intenção e, daí pra frente, a ternura dela comigo aumentou.

Muitas madrugadas acordo e olhando pro lado me deparo com a Juju olhando fixamente pra mim, velando meu sono.

Lilian precisou, recentemente, dormir no hospital, algumas noites, acompanhando Dona Eiko, minha sogra.

Peguei uma gripo forte e acredite, sozinho em casa, não houve noite em que Juju, amiga sincera, esperasse eu pegar no sono e pulava pra cama, me fazendo companhia.

É muito bom envelhecer descobrindo, entre outras coisas, que gatas têm muito a dizer.

Juju, a gata.

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