Enxuguei algumas cervejas com ele. Eu e o inesquecível Chico Feitosa (Chico Fim de Noite) tínhamos uma produtora de fonogramas, a Planisom, que ficava no velho Edifício Andorinhas, na esquina da Rio Branco com a
Marechal Floriano.
Nelson, duas, três vezes por semana, à tarde, prestigiava um botequim que ficava na Marechal Floriano, quase chegando na esquina. Ficava lá por algum tempo tocando aquele violão rude que dominava e cantando, com sua típica voz rouca, alguns sambas seus e de outros medalhões.
Quem me apresentou a ele foi meu saudoso parceiro Paulinho Soares, amigo de Guilherme Brito, letrista consagrado do Nelson. Beth Carvalho, outra Saudade, afilhada do Nelson, passou por lá algumas vezes e quando isso aconteceu, a calçada virou festa, gente reunida cantando no meio da rua, como se fossem velhos amigos. Estávamos em 1974, por aí.
Nunca tive chance de perguntar ao Nelson, se esta história que vou contar realmente aconteceu, mas lá vai.
Pouca gente sabe que o Nelson Cavaquinho era soldado da Polícia Militar e já bem mais conhecido como compositor, às vezes acontecia de encontrar amigos em pleno serviço. E pra não perder o embalo, se tivesse um violão por perto, esquecia que estava fardado e cantava, se acompanhando.
Numa dessas vezes, estava em frente ao Café Thalia, um café na esquina da Praça Tiradentes com a Avenida Passos, na diagonal do Teatro João Caetano. Preciso dizer que para ficar mais à feição, Nelson Cavaquinho desceu do cavalo que estava montando e emendou algumas canções. A noite passou depressa, a cerveja era farta, o cavalo encheu o saco de ficar esperando pelo Nelson e voltou sozinho pro quartel, aquele que ainda fica na Evaristo da Veiga.
Nelson não sacou que o cavalo tinha ido embora. No dia seguinte, teve sério problema pra explicar ao Comando, porque o cavalo voltara sozinho.
“Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor.”