Há exatos oito anos, o dia 20 de novembro é reservado para que o país comemore o Dia Nacional da Consciência Negra.
O que vou dizer, daqui pra frente, poderá ser endossado ou não por todos os da minha geração de publicitários e espero que não apenas meus irmãos de Criação (Redatores e Diretores de Arte) pensem a respeito, mas também o pessoal de Atendimento, a turma da Mídia, os não menos talentosos executivos de Veículos, enfim, todos os que abraçaram ou foram abraçados pela Publicidade nos últimos 50 anos, reflitam sobre o tema.
Amigos, não adianta fugir da raia. Bisneto de vovó Chiquinha, que não conheci (apenas por foto), mulher negra, campista, casada com branco 20 anos mais velho e que lhe deu oito filhos, ( um deles minha avó materna ), estou mais do que à vontade para me assumir afro-descendente e dizer o que penso.
A Publicidade brasileira sempre foi racista. Só agora, de alguns anos para cá, é que começam a aparecer, nos anúncios e comerciais, modelos e comunicadores negros, projetando nas telas e páginas de Jornais e Revistas uma realidade sócio-demográfica incontestável.
Mas levou tempo.
E olha que a nossa Publicidade, arauto progressista do Marketing e do Consumo, poderia ter feito muito para que o preconceito não crescesse tanto em nossa terra.
Quem trabalhou para contas de cigarros, bebidas alcoólicas e soft drinks ao longos de todas as décadas do século passado, tem que se lembrar que na escolha dos modelos, sabe lá Deus, movidos por que “cuidados”, evitávamos incluir modelos negros.
No máximo, uma ou outra mulata, às vezes um homem mais “moreno” e ficávamos por aí.
Era como se negros não fumassem, não tomassem cerveja ou comessem margarina pela manhã em comerciais tradicionais de “famílias felizes”.
O tempo passou na janela e só a Publicidade não viu.
No mercado de trabalho, a mesma postura. Rara a presença de publicitários negros nas Agências e nos departamentos de Marketing dos grandes ou médios anunciantes.
Você poderá dizer que no século passado os cursos particulares de Comunicação não acolhiam negros, por serem cursos caros e a renda das famílias negras urbanas ainda não dava para encarar cursos assim.
Mas eu vou mais longe: o negro brasileiro, cansado de sofrer preconceito, com certeza evitava sonhar com Comunicação Social como vocação profissional, porque sabia, no fundo, que sua entrada no mercado de trabalho exigiria um grande e, talvez, inútil esforço.
Somente o Jornalismo tenha aberto alguma janela neste castelo de preconceitos.
Onde quero chegar? Não é hora de mea culpa, nem de chorar sobre o leite derramado.
É hora de pôr a mão na Consciência e tomar juízo, ter coragem de bloquear todo e qualquer preconceito e ter, de uma vez por todas, caráter e vontade para mudar.
Pronto, falei.